Reflexões
Introdução
A medicina moderna não surgiu do nada. Ela é fruto de uma construção histórica marcada por escolhas, visões de mundo e imposições culturais. Entre os marcos decisivos está o Relatório Flexner (1910), que reestruturou a formação médica nos Estados Unidos e Canadá, estabelecendo padrões científicos que moldariam a medicina ocidental no século XX e além.
Flexner, educador formado em artes liberais e filosofia da educação, aplicou uma visão cartesiana: razão, lógica e método como princípios centrais. O resultado foi a profissionalização e o rigor científico da medicina, mas também o afastamento de saberes tradicionais, indígenas e holísticos, e a criação de uma medicina fragmentada, que trata sintomas em vez de causas.
Este artigo propõe refletir sobre como chegamos até aqui, quais foram as consequências históricas e sociais dessa abordagem e o que isso significa para a saúde integral do ser humano.
1. Contexto filosófico e histórico
Desde a colonização e a escravização de povos africanos e indígenas, houve a imposição de uma visão eurocêntrica, que desvalorizava tradições locais, modos de cuidado e saberes tradicionais. Essa visão moldou a forma como pensamos ciência, medicina e corpo humano.
A Revolução Científica e o racionalismo cartesiano consolidaram a ideia de que o mundo deve ser entendido através da razão, lógica e experimentação, separando mente e corpo, teoria e prática, observação empírica e intuição.
Essa filosofia abriu caminho para uma medicina centrada na análise laboratorial, na quantificação e no controle científico, afastando práticas que lidam com o ser humano de forma integral. A medicina deixou de dialogar com práticas integrativas, e o cuidado tornou-se especializado, segmentado e muitas vezes desconectado da experiência real do paciente.
2. Abraham Flexner e a padronização da educação médica
Abraham Flexner (1866–1959) era educador, não médico. Sua formação em artes liberais e filosofia da educação o preparou para avaliar sistemas educacionais de forma crítica, com rigor científico e metodológico.
Em 1910, a Carnegie Foundation for the Advancement of Teaching o contratou para examinar 155 escolas de medicina nos Estados Unidos e Canadá. O resultado foi o Relatório Flexner, que recomendou:
Currículo científico rigoroso, baseado em anatomia, fisiologia, bioquímica e farmacologia.
Integração entre teoria e prática clínica em hospitais e laboratórios.
Docentes qualificados, infraestrutura mínima e laboratórios bem equipados.
Consequências indiretas:
Fechamento de escolas menores, muitas das quais ensinavam medicina natural ou práticas integrativas.
Consolidação da medicina laboratorial e farmacológica como padrão.
Marginalização de saberes tradicionais, indígenas, africanos e orientais, rotulados como “não científicos”.
O que Flexner trouxe foi uma profissionalização necessária, mas, ao mesmo tempo, criou uma medicina centrada na doença e não no ser humano.
3. A fragmentação da medicina ocidental
A medicina que emergiu do modelo Flexner é altamente especializada. Médicos se concentram em órgãos, sistemas ou doenças específicas, perdendo a visão global do paciente.
O cuidado é fragmentado: cada especialista vê apenas sua área, raramente integrando fatores emocionais, sociais ou espirituais.
Médicos são treinados para tratar sintomas, não causas profundas.
Profissionais não recebem formação suficiente em pedagogia aplicada ao cuidado, comunicação empática ou abordagens de medicina integrativa.
Essa fragmentação não é apenas teórica: ela afeta diretamente a experiência do paciente, a efetividade do tratamento e a sustentabilidade da própria medicina.
4. Impactos históricos e contemporâneos
A imposição do modelo Flexner, aliado à filosofia cartesiana, trouxe efeitos duradouros:
Perda de saberes tradicionais:
Práticas fitoterápicas, terapias comunitárias e métodos de cuidado ancestrais foram desvalorizados e muitas vezes criminalizados.
Preconceito e marginalização:
Saberes indígenas, africanos e orientais foram vistos como “superstição” ou “não científica”, e o acesso a essas tradições foi restringido.
Consequências sociais e de saúde:
Dependência quase exclusiva de medicamentos e tecnologia.
Cuidados fragmentados e medicalização da vida.
Estudos recentes em saúde integrativa mostram que abordagens holísticas reduzem sintomas, melhoram bem-estar e promovem prevenção, reforçando que a exclusão desses saberes tradicionais tem impactos reais e negativos.
Exemplos concretos:
Doenças crônicas como hipertensão, diabetes e depressão são frequentemente tratadas apenas com medicamentos, sem abordar fatores emocionais, sociais ou ambientais.
Pacientes relatam falta de acompanhamento humano e sensação de “peça de máquina”, evidenciando a desconexão entre médico e paciente.
5. Caminhos contemporâneos e práticas integrativas
A medicina integrativa surge como resposta à fragmentação gerada pelo modelo Flexner e pela abordagem cartesiana rígida. Ao reunir saberes tradicionais, práticas fitoterápicas e terapias complementares com a ciência moderna, cria-se um cuidado centrado no paciente de forma holística. Clínicas especializadas em medicina integrativa demonstram que é possível tratar sintomas sem perder de vista fatores emocionais, sociais e espirituais, promovendo prevenção, bem-estar e autonomia do paciente.
A integração de práticas integrativas oferece alternativas reais à medicalização excessiva da vida, valorizando os recursos naturais e o conhecimento ancestral, além de estimular a participação ativa do indivíduo em sua saúde e sua conexão com a natureza.
6. Reflexão final
O Relatório Flexner marcou um avanço científico, mas também criou barreiras para o cuidado integral. A medicina ocidental hoje é altamente técnica, eficiente no tratamento de doenças agudas, mas limitada na promoção de saúde, prevenção e integração do ser humano.
A história mostra que focar apenas em razão, lógica e ciência quantitativa, ignorando contextos culturais, emocionais e espirituais, não é sustentável. Para cuidar verdadeiramente, precisamos aprender com saberes tradicionais, abordagens holísticas e práticas integrativas, resgatando a medicina como um ato de conexão com a vida, não apenas com a doença.
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